terça-feira, 27 de setembro de 2011

O Cheiro de Uma Lembrança




Acordei. Era manhã, ouvi apitos parecidos com o chiado do bule da mamãe. Ela sempre acordava cedo, antes mesmo do raiar do sol ou até mesmo antes do cantar dos galos. Galos que não haviam ali mas que um dia eu os ouvi, quando visitei um sitio de um um amigo do meu pai no interior e deduzi que seria aquele o horário que eles despertavam, talvez por sentirem em seus pelos ou penas a brisa do amanhecer. Talvez se assustassem. Ou não. Não importa. Mamãe acordava cedo porque era uma espiã super secreta e tinha que vigiar a casa enquanto dormíamos. O chiado soava alto e com ele aumentava também o cheiro do café passado no coador de pano, sei pelo sabor amarrotado, por isso odeio café. 
Pela manhã, mamãe sempre espremia laranjas, ela dizia que crianças sempre teriam um dia alegre assim como o ar cítrico da fruta. Por isso sempre ficava do lado de mamãe, para respirar o espremer da laranja e ter um dia mais feliz ainda. As vezes acordava cedo apenas para isso. Me levantei mas não encontrei os sapatos então desci para procurar a mamãe:


 _ Mãe, não consigo encontrar meus sapatos.
 _ Eu os deixei do lado direito da sua cama, perto do criado-mudo.
 _ Mas eu procurei e não achei, pode me ajudar?
 _ Sim filho, vamos procurar... ah, e feliz Natal!


Meus pais me falavam que no Natal o papai Noel andava pelos telhados e deixava um presente para todas as crianças, ouvi dizer que era só para aqueles que se comportavam direitinho. Mas achava estranho pois, Margarida, a filha da empregada, sempre foi tão boazinha e mesmo assim me disse que nunca ganhou nada, deve ser porque ela não tem pai, muito menos Noel.
Margarida sempre estava em casa e era a única com quem eu poderia brincar, pois mamãe dizia que os garotos da rua tinham brincadeiras estúpidas, deve ser aqueles gritos que eu sempre ouvia do lado de fora da janela. Ouvia dizer que não prestavam e não saberiam entender o quanto eu era especial.
Ah mas com Margarida era bem diferente. Nunca soube ao certo mas quando ela estava perto de mim sentia como se o ar mudasse, minha respiração fosse mais leve e a sentia de uma forma mais doce... como o sopro de um vento que de longe e consigo trás o perfume das flores ao meu encontro, ao mesmo tempo que parecia ouvir palavras suaves por volta da minha cabeça... da minha cabeça... da minha cabeça...


 “ Quem tivesse um amor, nesta noite de lua, 
para pensar um belo pensamento 
e pousá-lo no vento! 

Quem tivesse um amor - longe, certo e impossível - 
para se ver chorando, e gostar de chorar, 
e adormecer de lágrimas e luar! 

Quem tivesse um amor, e, entre o mar e as estrelas, 
partisse por nuvens, dormente e acordado, 
levitando apenas, pelo amor levado... 

Quem tivesse um amor, sem dúvida e sem mácula, 
sem antes nem depois: verdade e alegoria... 
Ah! quem tivesse... (Mas, quem teve? quem teria?) “

Mas eu não acredito em Papai Noel, afinal já tenho 7 anos. O que existe mesmo e eles não sabem é um duende voador todo espelhado que reflete o sonho das crianças, inclusive o meu que era voar mas isso eu já fiz. Me lembro até quando passava entre nuvens de algodão doce e sentia o próprio vento do bater das minhas asas no meu rosto... cheguei até a lua, que não sei como é mas margarida me dizia ser muito bonita e que era um filhote da terra, pois era redondinha e sempre estava brilhando. Dizem que criança brilha, talvez aquelas  que acreditam no duende espelhado. Mas o meu sonho de verdade é ser igual meu pai: um herói. Meu pai sempre me disse que os heróis são os mais organizados, os mais fortes e os que combatem aqueles que fazem coisa errada, meu pai é esse herói. Não sei se usa capa, mas tem bota, ele nunca me deixou saber como é a espada dele, disse que é perigosa e alcança os inimigos, mesmo os que estavam distantes e que junto com ele existem muitos outros heróis vindos do trem azul do céu que acreditavam no duende espelhado e eles são diferentes, são especiais, assim como ele, assim como eu. Meu pai disse que eles, os heróis, estão se preparando pra uma batalha intergaláctica. Onde há monstros enormes e fedidos que querem se vingar do duende espelhado por nunca terem ganhado um presente no Natal. Eles não tinham lar, eram maus e querem tirar os presentes daqueles que são bons. 
Uma vez ele me ensinou uma música que cantava com os companheiros antes de enfrentar os inimigos. Era assim:

 “Senti um dia no meu coração
uma imensa e forte emoção
de combate com meu fuzil na mão
e defender com orgulho essa nação
e lá do auto todos vão dizer
sentimos muito orgulho de você.”


Tenho certeza que os heróis vão vencer esta batalha, porque o bem sempre vence o mal... Por isso quero ser um Super Herói bondoso, assim como meu pai.

Era de tarde quando Margarida veio brincar comigo, ela pediu que eu a desenhasse do jeito que eu a via, eu fiquei tão nervoso que na hora que eu desenhei um coração, no meio um morango, e dentro do morango uma lua.O cheiro de margarida era doce como de um morango, a lua porque ela brilhava de todas as formas e o coração, porque ele batia forte quando eu estava perto dela. Quando eu mostrei o desenho, ela riu, e falou que não tinha a cara torta igual a do desenho, aí eu falei que ela era linda e especial de qualquer jeito, era minha melhor amiga. Quando eu menos esperava Margarida encostou seus lábios nos meus. Nossa, minha barriga parecia ter varias formiguinhas! Meu coração batia tão forte e minha boca ficou tão dormente! Foi incrível, foi mágico, e foi assim meu primeiro beijo.
Com o passar do tempo o mundo fora de casa, foi ficando diferente... Margarida não ia mais brincar comigo, meu pai disse que ninguém podia sair de casa. Começou a ficar frio, não tinha mais aquele cheiro de morango. Pareciam fogos de artifício no céu, mas não me trazia alegria como os fogos do Réveillon, ouvia gritos de desespero, me dava vontade de chorar.
Porque meu pai, que é um Herói, não estava salvando aquelas pessoas da dor? Eu perguntei à ele, e ele me disse que estava do jeito que ele queria. Ele deveria fazer as pessoas sorrirem e não chorarem.
Desespero, muito barulho, minha mãe orando, meu pai não estava mais lá. Até que senti um imenso calor vindo das paredes, minha mãe gritando e minhas pernas queimando. Respirar parecia tão difícil... eu só queria sentir por uma ultima vez aquele doce perfume...


Atividade proposta para trabalhar o lúdico. Texto elaborado  em conjunto com o povo do teatro.
(Samu, Bárbara, Aline, Lucas, Thiago, Jéssica e Dani)
Participação especial: Felipe (cobaia)

4 comentários:

  1. Ahh sera q nao vamos apresentar novamente... Esse texto nosso ficou fantástico!!

    O blog está maravilhoso!!!!! Parabéns querida!!

    Samuel

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  2. Ficou mesmo! Acho que já decorei ele inteirinho porque né kkkkkk
    Aaah e que bom que voce gosta daqui viiu, venha sempre querido *-*

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  3. Mas eu não canso de dizer!!
    Você é uma fofa ^^

    Bárbara

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  4. atendendo ao pedido...

    jah li!

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